[DIY Atemporal] A Jornada

Acordado em plena madrugada, típico de mim, o dia todo fiquei pensando na minha vida anterior ao acampamento, quase dez anos se passaram e nenhuma de minhas perguntas tinha resposta, isso as vezes tomava meu tempo em busca de algo que pudesse saciar essas dúvidas, coisas que eu prefiro esquecer.
Levantei e fui ao banheiro, mal passavam das 3 horas da madrugada, lavei meu rosto e peguei um frasco contendo alguns remédios para dormir no armário. Com passos lentos saí do cômodo para me dar de cara com uma figura totalmente inesperada. Sentada em minha cama estava uma mulher, seu rosto sério não me era nada familiar, pelo menos a princípio. A surpresa causada pelo seu repentino aparecimento me fez dar um passo para trás, imediatamente cheguei a conclusão de que não poderia ser mortal, afinal, eu teria ouvido ou sentido algo quando chegasse.
- Olá Rafael, esperava encontrá-lo dormindo, mas nem sempre s fatos ocorrem como desejamos...
- Quem é você? – perguntei a interrompendo.
- Não tenha pressa querido. A pressa é a inimiga da perfeição...
- Quem é você e o que faz no meu chalé? – interrompi novamente. Confesso que as dezenas de recentes acontecimentos pelos quais passei nos últimos meses contribuíram para que eu desenvolvesse certa paranóia.
- Sua mãe precisa lhe ensinar bons modos rapazinho, com sua idade deveria estar familiarizado com seus superiores.
- Do que está falando?
- Detesto fazer isso, mas já que insiste vou me apresentar. Sou Tálassa, personificação suprema do mar mediterrâneo – disse a mulher. Senti um arrepio passar pelo meu corpo, uma sensação de medo me afligiu. A presença da primordial era suficiente para me causar uma insegurança imediata – não se assuste rapaz, não vim lhe causar mal, isso é claro, se você colaborar comigo.
- O que quer? – perguntei com um pouco mais de receio que anteriormente.
- Quero alguém para resgatar algo que me foi roubado.
- O que foi roubado da senhora?
- Uma caixa com um conteúdo muito especial, não precisa sabe que exatamente é, irá reconhecer a caixa com facilidade. Atualmente está sob a posse da Medusa, que de alguma forma conseguiu se reunir com suas irmãs. As três Górgonas vagam pela região de Boston há alguns dias. Você foi escolhido para essa missão, pode levar mais alguém se desejar, mas lembre-se, nunca abra a caixa e a traga para cá, sã e salva em exatamente dez dias ou irei atrás de vocês.
- Como as encontrarei?
- Dê seu jeito garoto – a mulher falou com um tom um pouco mais arrogante e se levantou, caminhando em minha direção com passos suaves, fiquei praticamente travado, imóvel diante a deusa – Não se assuste criança, não vou lhe fazer mal algum, basta seguir direitinho o meu plano e trazer minha caixa.
- E se eu rejeitar a missão?
- Se rejeitar então terei que ir atrás da sua namoradinha, quem sabe ela não faz esse favor para mim, ou então, quem sabe meus filhos telquines possam se deliciar com a carne dela.
- CHEGA! – deixei um grito escapar ao ouvir o comentário sobre a Si. Ela havia tocado meu ponto fraco – Eu aceito a missão, mas fique longe da Sirena.
- Fique tranqüilo, não vou encostar em sua namoradinha enquanto ficar no seu devido lugar e me obedecer – ela parou perto de mim e tocou meu braço, senti o ponto de toque queimar intensamente mas contive qualquer espasmo de dor – Agora, bons sonhos.
Apenas ouvi suas palavras e então tudo escureceu, como se um sono profundo tivesse caído sobre mim. Voltei a abrir meus olhos, estranhamente acabei por acordar em minha cama, longe de onde lembro ter apagado, levantei um pouco tonto, me perguntando se aquilo tudo não havia passado de um sonho, mas ao olhar para o meu braço vi uma marca escura, minha pele estava queimada exatamente onde ela havia tocado. O jeito era obedecer Tálassa, nada a impediria de pegar a Si caso eu não cumprisse a missão.
Mas enfrentar as Górgonas sozinho ainda era uma idéia péssima, como todos os semideuses eu possuía um leque de limitações. Mas se eu tivesse uma boa equipe como apoio seria um sucesso quase garantido, Viic, Luke, Abby e Dylan foi a primeira formação que me venho a cabeça. Peguei um bloco de na sobre a mesinha de canto e um lápis, rapidamente escrevi quatro mensagens semelhantes, nelas eu marcava um horário para uma conversa na praia às 22 horas daquela noite.
Chamei um filho de Hermes, quem melhor para entregar os recados do que o filho do Deus dos Mensageiros? Dei algumas dracmas para o garoto e voltei para dentro do chalé, um plano já começava a se formar em minha cabeça e isso não era sinal de que algo bom fosse acontecer. A missão deveria ter total descrição, não queria arriscar a segurança da Si, agora era só esperar até a noite.