Fanfic - A festa da Vida.

por **Rosaly Herrick** Sáb Jun 15, 2013 10:46 am

Pra mim, ia ser como mais uma festa. Haveria pessoas legais que brincariam comigo, que dançariam, conversariam e se divertiriam pela noite toda. Haveria muita comida, bebida, música boa e coisas assim... Mas, infelizmente não foi bem isso o que aconteceu.

Tudo começou quando um casal de pessoas, que eu não soube distinguir bem o sexo, me escoltou até a festa. Eu estava animada, mas no meio do caminho o casal me disse que deveriam apagar a minha memória. Eu não saberia quem eram as pessoas que eu conheci, eu não saberia sequer meu nome... Eles disseram que eu seria entregue a outro casal experiente na festa e eles me orientariam por um tempo. Eu aceite a condição e assim foi feito.

Eu estava na porta de entrada da festa. A minha frente existia um hall com um carpete vermelho luxuoso e as paredes eram pretas, com detalhes em dourado. Eu estava vestindo um luxuoso vestido negro com babados prata que reluziam com as luzes foscas da festa. O casal a minha frente sorriu, mesmo sem saber quem eu era. Deram-me a mão e começamos a andar em direção a pista de dança.

A mulher era sem duvida linda. Era parecida comigo. Tinha um cabelo negro que lhe caia ondulando até mais ou menos o meio das costas e um olho azul que eu jurava que podia refletir o brilho do céu de verão. Ela vestia um vestido vermelho muito mais bonito que o meu, de fato, com um babado nas pontas negro. O homem tinha cabelos grisalhos, talvez uma marca que o tempo o deu. Era magro, porém forte e saudável. Vestia uma roupa antiga, negra, como se fosse um membro da nobreza.

Andamos cerca de 700 metros até que eles soltaram minhas mãos pela primeira vez. Entrei em choque, eu ainda não sabia como me localizaria dentro da festa que era gigantesca. Mas, rapidamente, eles me deram as mãos novamente. Só que trouxeram consigo outra criança: um menino. Ele tinha os cabelos cor de caramelo e os olhos marrons esverdeados. Percebi naquele momento que os três, assim como eu, estavam sempre sorrindo e com uma feição muito pura.

Eles me apresentaram alguns lugares legais pela festa. Prometeram que me mostrariam tudo, mas quando dei por mim o casal havia sumido. Estávamos então sozinhos eu e aquele menino. Em pouco tempo, ele se perdeu de mim também. Eu não conseguia parar de refletir a todo instante se eles três estariam bem.

Não podia ficar parada ali para sempre. A festa podia acabar a qualquer momento, afinal eu não tinha nem ideia de que horas eram. Dancei pela pista com alguns rapazes, eu estava me divertindo muito. Todos eram belos e pareciam serem gentis, mas quando eu estava realmente me entregando à dança eles me substituíam por uma nova parceira, me deixando então sozinha.

Algumas moças belas da festa conversaram comigo. Elas pareciam ser simpáticas, mas logo percebi que todas dançaram com meus antigos pares de dança. Era um circulo vicioso: eles se aproximavam de mim e então iam direto a elas.

De relance, enquanto andava pela mansão, vi o casal que mais cedo havia me recebido. Senti meu coração pulsar de felicidade, sem saber o porquê, e fui me aproximando lentamente. Parecia que quanto mais eu me aproximava, pior o clima entre os dois ficava. Em pouco tempo, quando eu estava muito próxima deles, a mulher tirou o salto alto e saiu correndo derramando seu precioso pranto no belo vestido vermelho.

O homem estava cabisbaixo. Mesmo assim, conseguiu lançar-me um sorriso e me tomar pela mão. Voltamos a caminhar, a procura daquele menino que anteriormente estava conosco. Não o achamos. Logo, o senhor que me acompanhava sentou-se em uma cadeira e cruzou as pernas.

- Eu... Preciso descansar minha querida. Esta festa foi longe demais para mim.

Disse ele antes de se tornar uma boneca de cera. Gastei muito tempo apenas olhando para ele com os olhos cheios de lágrimas. Eu gostaria que ele me acompanhasse por mais tempo e se divertisse comigo até o fim da festa, então resolvi que ficaria ali para sempre esperando que ele acordasse.

- Ele não vai voltar minha pequena. Venha comigo, posso cuidar de você.

Disse uma voz em meu ouvido. Virei-me para ver quem era. Era um rapaz com cabelos negros e olhos azuis, parecido com aquela mulher que me guiou. Seu rosto era cheio de bondade e ele tinha um ar sedutor. Não consegui resistir e logo começamos a valsar por todo o salão.

Parecia que éramos apenas nós dois ali. Ele sorria para mim, eu sorria para ele. Ele me conduzia e eu me deixava envolver. A música era perfeita, aos poucos a iluminação, antes fosca, estava ganhando cor. As pessoas batiam palmas à nossa volta e riam. Conversavam, se divertiam de verdade.

Mas, em pouco tempo, ele sumiu. Perdeu-se de mim como o casal havia se perdido antes. Não entrei em pânico, apenas o procurei o rapaz por ai. Para minha surpresa ele estava sentado em uma cadeira, ao lado do senhor que me guiou. E ao lado dele a mulher que me guiou e o menino que estava com eles, quando eles me apresentaram a festa. Em pouco tempo descobri que o nome do homem era “Pai”, da mulher “Mãe”, do menino “Irmão” e do rapaz que dançou comigo e me alegrou por tanto tempo era “Marido”.

As coisas não faziam sentido para mim. Sentei-me em uma cadeira perto de todos eles e fiquei olhando as pessoas na festa. Jovens mulheres, muito parecidas comigo e sorridentes, olhavam de longe os rapazes solitários. Pequenas crianças eram guiadas por casais, como acontecera comigo outrora. E pessoas com uma aparência mais velha sentavam-se em cadeiras, tornando-se rapidamente bonecos de cera.

Olhei para o único lugar da festa que ainda não havia olhado: o teto. Me surpreendi ao ver que era aberto e que de lá desciam pequenos fios de nilon que estavam ligadas às pessoas. Percebi que todos eram iguais, ou pelo menos muito parecidos em relação ao comportamento.

Logo, o que pareciam ser máscaras caíram dos rostos de todos. Surpreendi-me, pois não havia visto aquelas mascaras até aquele momento. O rosto de cada pessoa naquela festa era horrível. Pareciam demônios com mil olhos, que balbuciavam calúnias uns sobre os outros ao vento... e que acreditavam em qualquer besteirol.

Olhei para o lado, para ver se as mascaras dos meus amigos haviam caído também e ver que tipo de monstro eles eram. Surpreendi-me novamente: eles não estavam usando mascaras. Suas faces eram naturais, a única coisa sobressalente do corpo eram as vestes luxuosas.

Meu coração se apertou. Eu havia permanecido tanto tempo naquela festa e não havia percebido que todos ali usavam mascaras! Eu sequer sabia há quanto tempo estava ali. Ao meu lado, tudo o que dei valor se resumia a bonecos de cera. E a minha frente milhões de demônios falavam sobre tudo o que sabiam e o que não sabiam também.

Um grupo de demônios, que pareciam ter sido mulheres anteriormente, passou a minha frente. Perguntei-as o que na verdade era aquele baile:

- Ora, pequenina! Você realmente não sabe? Esse baile se chama VIDA. Aqui, todos precisam usar máscaras! Aqueles que não usam como você e seus amigos bonecos de cera, machucam-se facilmente. E logo são expulsos da comemoração. Alguns, como eles, escolhem tornar-se apenas parte da decoração, para sofrer menos. E alguns, como você, apenas passam despercebidos.

Uma delas me respondeu. Ela riu, uma risada que me causou calafrios e se foi. Eu estava percebendo agora em que grande enrascada havia me metido. Encostei-me pensativa sobre o que seria aquela tal “vida” e ali fiquei por muito tempo. Talvez fosse uma sigla. E, quando finalmente entendi, eu já era mais um boneco de cera. Apenas parte da decoração.

- Vida: vontade involuntária de amar – Concluí. E essa foi a frase que ecoou dentro de minha cabeça pelo resto daquela festa, uma festa sem fim.